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segunda-feira, 17 de junho de 2013

“MEU PRIMEIRO BEIJO”
EM UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA



A melhor definição do amor
Não vale um beijo.
Machado de Assis



1.        Dados de identificação
1.1     Responsáveis: Leila, Luiz Otávio, Mariana, Roseli, Sandra, Silvana e Sônia – professores de Língua Portuguesa
1.2     Ano escolar: 9º ano do Ensino Fundamental
1.3     Duração: Cerca de 15 aulas
1.4     Texto-base: “Meu primeiro beijo”, de Antônio Barreto
1.5     Textos de apoio: a canção “Aquele beijo”, de Roberto Carlos; o filme “Um amor para recordar”; o capítulo “O penteado”, do romance “Dom Casmurro”, de Machado de Assis; e o mash up “O 1º beijo de Bentinho e Capitu”.

2.        Tema/Título: AMOR E O PRIMEIRO BEIJO

3.        Objetivo geral:
Como objetivo geral procurar-se-á possibilitar que “todos os nossos alunos se tornem leitores e escritores competentes [...]” (SÃO PAULO, 2008, p. 7) e propiciar um ensino de qualidade, que possa reduzir o iletrismo e o fracasso escolar e despertar o prazer e o interesse nos alunos, ou seja, o gosto em aprender e, especialmente, em ler e escrever.

4.        Objetivos específicos:
São objetivos específicos desta Sequência Didática (SD):
·      oferecer ao aluno o acesso ao texto e/ou gênero textual literário “crônica”, assim como a outros gêneros, como a canção, o filme, o mash up e o romance;
·      levar o aluno a reconhecer as características do gênero “crônica” e reforçar o conhecimento sobre os elementos constituintes do agrupamento narrar (tipologia narrativa);
·      propiciar ao aluno o uso de recursos oferecidos pelas TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação);
·      possibilitar o desenvolvimento de capacidades de compreensão e capacidades de apreciação e réplica (ou interpretação e interação), de modo que o aluno venha a participar

de situação de intercâmbio oral que requeiram: ouvir com atenção, intervir sem sair do assunto tratado, formular e responder perguntas justificando suas respostas, explicar e compreender explicações, manifestar e acolher opiniões, fazer colocações considerando as falas anteriores. (SÃO PAULO, 2008, p. 18)

·      colaborar para um desenvolvimento cada vez maior da afetividade e da percepção e sensibilidade artístico-literárias, de modo a contribuir para a formação de um escritor mais crítico, competente, cidadão e criativo;
·      levar o aluno a reconhecer o gênero literário como uma linguagem capaz de expressar e comunicar sensações, sentimentos e pensamentos e a refletir sobre o tema abordado, os tipos de comportamento/atitudes e sobre a própria vida;
·      levar o aluno a produzir, em diferentes situações, o gênero estudado.

5.        Conteúdos:
5.1  Conceituais:
·      O gênero “crônica”, sua estrutura e suas características.
·      Os elementos da narrativa, enquanto retomada para reforçar o gênero “crônica”.
·      A canção e sua estrutura.
·      O filme e o mash up e seus recursos.
Dentro de cada um desses conteúdos, contemplar-se-á ainda os seguintes aspectos:
·      A função social dos diferentes gêneros textuais/discursivos e do sistema de comunicação.
·      O objetivo do texto/autor e a identificação do interlocutor na análise dos procedimentos linguísticos empregados.
·      O tema ou o assunto principal de um texto na análise das informações ou subentendidas em diferentes gêneros textuais/discursivos.

5.2  Procedimentais:
·      A antecipação ou a predição de conteúdos o propriedades dos textos – o levantamento de hipóteses.
·      A localização e/ou a cópia de informações e a sua comparação.
·      A produção de inferências locais e globais, sabendo explicar e compreender explicações.
·      A percepção das relações de intertextualidade/interdiscursividade.
·      A formulação de perguntas e respostas, justificando suas escolhas com base nos conteúdos.

5.3  Atitudinais:
·       A elaboração de apreciações estéticas e/ou afetivas e de apreciações relativas a valores éticos e/políticos.
·       A postura adequada em situações de intercâmbio/interação, sabendo ouvir com atenção, intervir sem sair do assunto tratado, manifestar e acolher opiniões, fazer colocações considerando as falas anteriores e alheias.
·       Uma maior percepção e sensibilidade artístico-literárias, mostrando-se um escritor mais crítico, competente, criativo e cidadão.
·       A capacidade de expressar e comunicar sensações, sentimentos e pensamentos.
·       A reflexão sobre os temas/conteúdos abordados e os tipos de comportamento/atitude, relacionando-os com a própria realidade e sua comunidade e com o meio ambiente em que vive.

6.        Problematização – Discussão inicial:
Os questionamentos para as discussões orais serão aqueles de caráter introdutório, semelhantes aos que o material de apoio – o Caderno do Aluno – costuma apresentar como atividade que antecede a leitura e a análise de um gênero, servindo também como uma sondagem para o levantamento dos conhecimentos prévios.
Serão ainda utilizados, na realização da leitura, os descritores/as capacidades propostos por Roxane Rojo (2004), os quais são classificados em capacidade de decodificação, capacidades de compreensão (estratégias) e capacidades de apreciação e réplica do leitor em relação ao texto (interpretação, interação).[1]

7.        Instrumentalização (ações docentes e discentes):
7.1     Situação de aprendizagem 1 (de 2 a 3 aulas):
·      Introdução ao gênero “crônica” e breve estudo por meio da discussão oral e da sondagem.
·      Retomada do agrupamento “narrar”: sua estrutura e suas características.
·      Apresentação da crônica “Meu primeiro beijo”, de Antônio Barreto, com a leitura e análise, fazendo uso das capacidades propostas por Rojo (2004) e explorando os conteúdos conceituais.

7.2     Situação de aprendizagem 2 (3 aulas):
·      Exibição do filme “Um amor para recordar” (2002).
·      Análise de intertextualidade: o filme e a crônica “Meu primeiro beijo”.
·      Discussão oral e contextualização, para que os alunos possam, com base na análise dos dois gêneros, falar de suas experiências com o tema abordado.

7.3     Situação de aprendizagem 3 (1 aula):
·      Apresentação e audição da canção “Aquele beijo”[2], de Roberto Carlos.
·      Breve estudo sobre o gênero canção, explorando os conteúdos conceituais.

7.4     Situação de aprendizagem 4 (2 aulas):
·      Apresentação do mash up “O 1º beijo de Bentinho e Capitu”[3], introduzindo o capítulo o “Penteado”[4], da obra “Dom Casmurro”, de Machado de Assis.
·      Leitura e análise do capítulo do romance, explorando as capacidades de leitura propostas por Rojo (2004).

7.5  Situação de aprendizagem 5 (3 aulas):
·      Orientações para a produção da crônica e do mash up.
·      Produção textual do gênero “crônica” sobre a temática estudada, em grupo, fazendo uso do gênero mash up.

7.6  Situação de aprendizagem 6 (2 aulas):
·      Produção do mash up pelos grupos de alunos na sala de informática.

7.7. Situação de aprendizagem 7 (2 aulas):
·      Socialização dos trabalhos.

8.        Material didático de apoio:
·      textos verbais, não-verbais e multimodais;
·      material multimídia (projetor, telão e notebook);
·      filme;
·      aparelho CD;

9.        Outros recursos:
·      Sala de aula, de vídeo e de informática.

10.    Avaliação:
A avaliação será realizada em todos os estágios do processo. Inicialmente, para avaliar o que os alunos já trazem de conhecimentos e, assim, realizar as intervenções e mediações necessárias, bem como para servir de base sobre o que não sabiam e o que passaram a saber ao final do processo.
Durante as atividades, será avaliado o comportamento de observação e de investigação no processo, bem como a participação oral nos momentos de discussão oral.
Serão avaliados também o posicionamento mantido durante as problematizações propostas, por meio da expressão oral dos alunos, e a participação nas diferentes atividades, seja individualmente ou em grupo.
O resultado final será a produção de uma crônica em grupo, utilizando-se os recursos audiovisuais e a sua socialização.


REFERÊNCIAS
ASSIS, M. Dom Casmurro: O penteado. São Paulo: Martin Claret, 2002.

BARRETO, A. Meu primeiro beijo. In: BARREITO, A. Balada do primeiro amor. São Paulo: FTD: 1977.

CARLOS, R. Aquele beijo. Disponível em: <http://letras.mus.br/roberto-carlos/48556/>. Último acesso em: 17/05/2013.

O 1º BEIJO DE BENTINHO E CAPITU – MASH UP. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=wWnHPyTlkhA>. Último acesso em: 17/05/2013.

ROJO, R. Letramentos e capacidades de leitura para a cidadania. São Paulo: Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem (LAEL)/Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), 2004. Disponível em: <http://suzireis.bravehost.com/posgraduacao/artigos/roxane_rojo.pdf>. Último acesso em: 17/05/2013.

SÃO PAULO (Estado) – Secretaria da Educação. Orientações Curriculares do Estado de São Paulo. L. Portuguesa e Matemática – Ciclo I. Coordenação: Neide Nogueira; Telma Weisz. São Paulo: FDE, 2008.

UM AMOR PARA RECORDAR. Direção: Adam Shankman. Produção: Hunt Lowry, Denise Di Novi. EUA, Warner Bros. e outras, 2002. 1 vídeo de 01:10:00.


ANEXOS


Anexo 1 – Síntese das capacidades de leitura propostas por ROJO (2004) com sugestões de como desenvolvê-las (BARBOSA; GARCIA, 2004)

Síntese das capacidades de leitura com sugestões de como desenvolver [5]


Capacidades de compreensão

COMO DESENVOLVER

Ativação de conhecimentos prévios
Antes da leitura do texto propriamente dito, retomar conteúdos relacionados; fazer perguntas sobre o assunto, visando garantir a socialização desses conhecimentos; quando alguma dessas perguntas ficar sem resposta e ela for importante para a possibilidade de compreensão do texto, o professor deve antecipar esse conteúdo; etc.
Antecipação ou predição de conteúdos ou propriedades dos textos
(levantamento de hipóteses)
Antecipação ou predição de conteúdos: A partir da leitura do título, ou das informações sobre o autor do texto (papel social), incitar os alunos a antecipar conteúdos do texto a ser lido. Em alguns casos, essas perguntas podem se dar ao longo da leitura, em relação ao que está por vir, levando em conta o que já foi lido.
Antecipação ou predição de propriedades dos textos: A partir do reconhecimento prévio ou de uma informação explícita do professor de que se trata de um exemplar de um gênero X ou Y (artigo de opinião, crônica, artigo de divulgação científica, notícia etc.) incitar o aluno a antecipar elementos e conteúdos do texto a ser lido.

Checagem de hipóteses

Durante a leitura do texto, o professor deve ir retomando as hipóteses (antecipações) levantadas para verificar se elas foram ou não confirmadas. Se necessário e adequado, pode-se durante esse processo levantar outras hipóteses.
Localização e/ou cópia de informações
Em função dos objetivos da leitura, algumas atividades devem favorecer a localização de informações cruciais do texto por meio de perguntas que dirigem o olhar do aluno para tais aspectos (conceitos ou relações que devem ser garantidos etc.). Procedimentos tais como sublinhar, copiar, iluminar informações relevantes etc. devem ser estimulados para auxiliar o aluno a buscar pelas passagens essenciais e abandonar informações periféricas.
Comparação de informações
Durante a leitura do texto, algumas perguntas ou discussões coletivas podem estimular o aluno a comparar/contrastar informações presentes no próprio texto, de modo a auxiliá-lo, por exemplo, na identificação da tese, de argumentos, do conflito central, na realização de resumos etc. Por outro lado, atividades que o estimulem a comparar informações do texto com outras presentes em diferentes textos (orais ou escritos) favorecem a percepção de relações de intertextualidade ou até mesmo de interdiscursividade, ampliando a compreensão e estimulando a leitura crítica.    

Generalização

Essencial para a realização de síntese da leitura, (e estreitamente relacionada às duas capacidades anteriores) esta capacidade pode ser estimulada por meio de perguntas ou discussões que levem o aluno a reconhecer características comuns ou regulares a dados ou acontecimentos singulares, a extrair uma regra ou princípio geral pela observação de exemplos particulares, trechos enumerativos, descritivos ou explicativos etc. Mais do que saber dizer sobre o tema tratado, é importante que o aluno possa dizer o que o autor pretendeu com aquele texto – explicar o funcionamento do sistema nervoso, defender sua posição frente à questão da redução da maioridade penal etc. Num segundo nível, pode-se também focar o essencial dessas explicações ou argumentações – qual a posição/tese que o autor defende e os principais argumentos que sustentam sua posição.
Produção de inferências locais
É possível levar o aluno a, levando em conta o contexto imediato do texto, deduzir o sentido de uma palavra desconhecida, identificar o referente de pronomes, relacionar expressões sinônimas ou equivalentes, compreender termos que retomam ou antecipam informações etc.
Produção de inferências globais
Perguntas ou discussões podem favorecer que o aluno perceba o que não está dito explicitamente no texto, mas está pressuposto ou insinuado e deve ser inferido para que a compreensão se efetive. Chamar a atenção para pistas que o autor deixa no texto, tais como escolhas lexicais específicas, construções enfáticas, uso de operadores argumentativos, presença de linguagem figurada, ironia etc. são maneiras de favorecer inferências globais.  Também colabora para isso o estabelecimento de relações produtivas entre as informações presentes no texto e a recuperação do contexto de produção do texto. Em qualquer um dos casos, fazer a distinção entre as inferências autorizadas pelo texto (marcadas pelas pistas ou determinadas pelo contexto de produção) e aquelas que não são autorizadas (fruto de uma interpretação excessivamente “livre” e pessoal) é fundamental.


Capacidades de apreciação e réplica do leitor em relação ao texto (interpretação, interação)

COMO DESENVOLVER

Recuperação do contexto de produção do texto
Focalizar – por meio de levantamento, estudo, pesquisa, perguntas, discussões, etc. – qualquer um dos elementos que compõem o contexto de produção do texto (autor, lugar social que ocupa, esfera social em que o texto circula, veículo em que é divulgado, momento histórico em que foi produzido, intenções comunicativas do autor, leitores presumidos, interlocutores contemporâneos etc.) é um procedimento essencial que favorece outras capacidades de leitura aqui elencadas, tais como, a ativação de conhecimentos prévios, a predição de conteúdos, a realização de inferências globais, a elaboração de apreciações estéticas ou afetivas e as relativas a valores éticos ou políticos etc.
Definição de finalidades e metas da atividade de leitura
A situação de leitura define suas finalidades e metas. Logo, principalmente na situação escolar que tende a ser “artificial”, na medida em que nem sempre é o leitor que define o que, por que e para que vai ler, é essencial explicitar ou criar a situação de leitura, por meio de recursos que podem ser autênticos (ler para buscar uma informação específica ou estudar, por exemplo) ou simulados (imagine que você vai ler esse texto para participar de um debate sobre o assunto, por exemplo).
Percepção de relações de intertextuali-dade
Quanto maior é o número de relações que o leitor estabelece entre o que está lendo e o que já leu, ouviu, conversou, assistiu etc., sobre o mesmo tema, mais efetivo é o diálogo que ele trava com o texto. Assim, por meio de comentários, perguntas, retomadas, solicitação de pesquisas etc., é muito útil “refrescar sua memória” lembrando-o de conteúdos presentes em outros textos relacionados ao que está lendo, imaginando outros textos possíveis. Segundo Bakhtin, todo texto é de alguma forma resposta a textos anteriores e está prenhe de respostas ulteriores.
Percepção de relações de interdiscursivi-dade

O mesmo princípio anterior vale para esta capacidade no que diz respeito agora não a conteúdos do texto, mas a outros discursos aos quais o texto em questão remete. Assim, por exemplo, muitas vezes só é possível compreender uma referência, uma nota bibliográfica, uma ironia ou mesmo realizar uma inferência quando se leva em conta os discursos com os quais o texto dialoga, o que sempre inclui, para além dos textos, os contextos de produção desses textos. Atividades que levem o aluno a identificar ou explicitar tais diálogos favorecem esta capacidade. 

Percepção de outras linguagens
Principalmente quando se preserva o portador original do texto a ser lido (por exemplo, uma notícia de jornal, no próprio jornal), perguntas e discussões que focalizam o paratexto verbal e não-verbal que geralmente acompanha o texto (imagens, gráficos, tipos de letras, manchetes, boxes etc.) contribuem para a compreensão do texto como um todo.
Elaboração de apreciações estéticas e/ou afetivas
Ler o texto, encarando-o como uma construção deliberada do autor e ser capaz de apreciar seus  efeitos de sentido, identificando os recursos da língua que o autor mobiliza para produzi-los é uma capacidade bastante sofisticada e que leva o leitor a, de fato, fruir o texto. Assim, exercícios que levem o aluno a identificar uma organização textual bem feita, uma escolha lexical particularmente interessante, uma construção sintática feliz, um certo modo de encadear os argumentos, o uso de uma metáfora elucidativa, uma paragrafação rigorosa, a precisão no uso da língua etc. são maneiras de não só ampliar a capacidade de compreensão do texto em questão, mas também de formar o leitor (e o escritor) em geral que, a partir disso, terá mais condições para emitir opiniões de cunho mais afetivo sobre o texto.
Elaboração de apreciações relativas a valores éticos e/ou políticos

Para ser capaz de realizar a réplica crítica ao texto, avaliando em que medida há concordância ou discordância com o autor, a coerência interna do texto, as consequências e desdobramentos das posições ali assumidas, os valores que expressa, as atitudes a que induz etc. é necessário estimular o aluno, por meio de perguntas, discussões, comparações a outros textos e discursos, debates etc. que extrapolem o texto em questão. Mas não basta perguntas do tipo “qual é a sua opinião sobre o assunto” ou “você concorda com x”, o que pode simplesmente suscitar superficialidades do que ele já pensa a respeito. É preciso oferecer elementos para que o aluno possa pensar coisas novas, aprofundar suas análises etc.

Obs.
Uma proposta de atividade de leitura não deve intencionar trabalhar com todas as capacidades ao mesmo tempo, sob o risco da atividade ficar um tanto quanto enfadonha. Ao contrário, é importante diversificar as capacidades visadas em várias atividades, levando em conta as propriedades dos textos trabalhados e as possibilidades dos alunos. Importante também é diversificar o modo de desenvolver as atividades – trabalho individual, em duplas, coletivo, respostas escritas ou orais. Um trabalho adequado com a leitura na perspectiva de desenvolver capacidades/procedimentos, deve acontecer antes (ativação de conhecimento prévio, antecipação de conteúdos ou propriedades dos textos e definição de metas e finalidades para a leitura), durante e depois da leitura.


Anexo 2 – Música “Aquele beijo”, Roberto Carlos

Aquele beijo que te dei
Nunca, nunca mais esquecerei
A noite linda de luar
Lua testemunha tão vulgar
Lembro de você
E fico triste
Até me dá vontade de chorar
De lembrar que o amor
Não mais existe
Não mais existe
Mas eu sempre
Hei de te amar
Ou, ou aquele beijo
Nunca mais esquecerei
O beijo que te dei


Anexo 3 – Capítulo “O penteado”, da obra “Dom Casmurro”, de Machado de Assis

 

Capítulo XIXI / O penteado


E Capitu deu-me as costas, voltando-se para o espelhando. Peguei-lhe dos cabelos, colhi-os todos e entrei a alisá-los com o pente, desde a testa até as últimas pontas, que lhe desciam à cintura. Em pé não dava jeito: não esquecestes que ela era um nadinha mais alta que eu, mas ainda que fosse da mesma altura. Pedi-lhe que se sentasse.
Senta aqui, é melhor.
Sentou-se. "Vamos ver o grande cabeleireiro", disse-me rindo. Continuei a alisar os cabelos, com muito cuidado, e dividi-os em duas porções iguais, para compor as duas tranças. Não as fiz logo, nem assim depressa, como podem supor os cabeleireiros de ofício, mas devagar, devagarinho, saboreando pelo tacto aqueles fios grossos, que eram parte dela. O trabalho era atrapalhado, às vezes por desazo, outras de propósito para desfazer o feito e refazê-lo. Os dedos roçavam na nuca da pequena ou nas espáduas vestidas de chita, e a sensação era um deleite. Mas, enfim, os cabelos iam acabando, por mais que eu os quisesse intermináveis. Não pedi ao céu que eles fossem tão longos como os da Aurora, porque não conhecia ainda esta divindade que os velhos poetas me apresentaram depois; mas, desejei penteá-los por todos os séculos dos séculos, tecer duas tranças que pudessem envolver o infinito por um número inominável de vezes. Se isto vos parecer enfático, desgraçado leitor, é que nunca penteastes uma pequena, nunca pusestes as mãos adolescentes na jovem cabeça de uma ninfa... Uma ninfa! Todo eu estou mitológico. Ainda há pouco, falando dos seus olhos de ressaca, cheguei a escrever Tétis; risquei Tétis, risquemos ninfa, digamos somente uma criatura amada, palavra que envolve todas as potências cristãs e pagãs. Enfim acabei as duas tranças. Onde estava a fita para atar-lhes as pontas Em cima da mesa, um triste pedaço de fita enxovalhada. Juntei as pontas das tranças, uni-as por um laço, retoquei a obra, alargando aqui, achatando ali, até que exclamei:
Pronto!
Estará bom?
Veja no espelho.
Em vez de ir ao espelho, que pensais que fez Capitu? Não vos esqueçais que estava sentada, de costas para mim. Capitu derreou a cabeça, a tal ponto que me foi preciso acudir com as mãos e ampará-la; o espaldar da cadeira era baixo. Inclinei-me depois sobre ela rosto a rosto, mas trocados, os olhos de uma na linha da boca do outro. Pedi-lhe que levantasse a cabeça, podia ficar tonta, machucar o pescoço. Cheguei a dizer-lhe que estava feia; mas nem esta razão a moveu.
Levanta, Capitu!
Não quis, não levantou a cabeça, e ficamos assim a olhar um para o outro, até que ela abrochou os lábios, eu desci os meus, e...
Grande foi a sensação do beijo; Capitu ergueu-se, rápida, eu recuei até à parede com uma espécie de vertigem, sem fala, os olhos escuros. Quando eles me clarearam vi que Capitu tinha os seus no chão. Não me atrevi a dizer nada; ainda que quisesse, faltava-me língua. Preso. atordoado, não achava gesto nem ímpeto que me descolasse da parede e me atirasse a ela com mil palavras cálidas e mimosas... Não mofes dos meus quinze anos, leitor precoce. Com dezessete, Des Grieux (e mais era Des Grieux) não pensava ainda na diferença dos sexos.


Anexo 4 – Crônica “Meu primeiro beijo”, de Antônio Barreto

Meu primeiro beijo
Antonio Barreto
É dificil acreditar, mas meu primeiro beijo foi num ônibus, na volta da escola. E sabem com quem? Com o Cultura Inútil! Pode? Até que foi legal. Nem eu nem ele sabíamos exatamente o que era "o beijo". Só de filme. Estávamos virgens nesse assunto, e morrendo de medo. Mas aprendemos. E foi assim...
Não sei se numa aula de Biologia ou de Química, o Culta tinha me mandado um dos seus milhares de bilhetinhos:
"Você é a glicose do meu metabolismo.
Te amo muito!
Paracelso"
E assinou com uma letrinha miúda: Paracelso. Paracelso era outro apelido dele. Assinou com letrinha tão minúscula que quase tive dó, tive pena, instinto maternal, coisas de mulher... E também não sei por que: resolvi dar uma chance pra ele, mesmo sem saber que tipo de lance ia rolar.
No dia seguinte, depois do inglês, pediu pra me acompanhar até em casa. No ônibus, veio com o seguinte papo:
Um beijo pode deixar a gente exausto, sabia? Fiz cara de desentendida.
Mas ele continuou:
Dependendo do beijo, a gente põe em ação 29 músculos, consome cerca de 12 calorias e acelera o coração de 70 para 150 batidas por minuto. Aí ele tomou coragem e pegou na minha mão. Mas continuou salivando seus perdigotos:
A gente também gasta, na saliva, nada menos que 9 mg de água; 0,7 mg de albumina; 0,18 g de substâncias orgânica; 0,711 mg de matérias graxas; 0,45 mg de sais e pelo menos 250 bactérias...
Aí o bactéria falante aproximou o rosto do meu e, tremendo, tirou seus óculos, tirou os meus, e ficamos nos olhando, de pertinho. O bastante para que eu descobrisse que, sem os óculos, seus olhos eram bonitos e expressivos, azuis e brilhantes. E achei gostoso aquele calorzinho que envolvia o corpo da gente. Ele beijou a pontinha do meu nariz, fechei os olhos e senti sua respiração ofegante. Seus lábios tocaram os meus. Primeiro de leve, depois com mais força, e então nos abraçamos de bocas coladas, por alguns segundos.
E de repente o ônibus já havia chegado no ponto final e já tínhamos transposto, juntos, o abismo do primeiro beijo.
Desci, cheguei em casa, nos beijamos de novo no portão do prédio, e aí ficamos apaixonados por vária semanas. Até que o mundo rolou, as luas vieram e voltaram, o tempo se esqueceu do tempo, as contas de telefone aumentaram, depois diminuíram... e foi ficando nisso. Normal. Que nem meu primeiro beijo. Mas foi inesquecível!





[1] Para melhor entender as habilidades das capacidades de compreensão (estratégias) e das capacidades de apreciação e réplica do leitor em relação ao texto (interpretação, interação), ver ANEXO 1.
[2] Ver Anexo 2.
[3] Endereço eletrônico que dá acesso ao vídeo “O 1º beijo de Bentinho e Capitu” – Texto retirado do romance “Dom Casmurro”, de Machado de Assis, e cena retirada da minissérie “Capitu”, transmitida pela Rede Globo de Televisão: <http://www.youtube.com/watch?v=wWnHPyTlkhA>.
[4] Ver Anexo 3.
[5] Quadro construído por Jacqueline Barbosa e Ana Luíza Marcondes Garcia a partir do texto de Rojo 2004 como parte do material de formação do Programa Ensino Médio Em Rede – CENP/SEE-SP/MEC/PNUD.