“MEU
PRIMEIRO BEIJO”
EM UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA
A melhor
definição do amor
Não vale um
beijo.
Machado de Assis
1.
Dados de identificação
1.1
Responsáveis: Leila, Luiz Otávio, Mariana,
Roseli, Sandra, Silvana e Sônia – professores de Língua Portuguesa
1.2
Ano escolar: 9º ano do Ensino Fundamental
1.3
Duração: Cerca de 15 aulas
1.4
Texto-base: “Meu primeiro beijo”, de
Antônio Barreto
1.5
Textos de apoio: a canção “Aquele beijo”, de
Roberto Carlos; o filme “Um amor para recordar”; o capítulo “O penteado”, do
romance “Dom Casmurro”, de Machado de Assis; e o mash up “O 1º beijo de Bentinho e Capitu”.
2.
Tema/Título: AMOR E O PRIMEIRO BEIJO
3.
Objetivo geral:
Como objetivo geral procurar-se-á
possibilitar que “todos os nossos alunos se tornem leitores e escritores
competentes [...]” (SÃO PAULO, 2008, p. 7) e propiciar um ensino de qualidade,
que possa reduzir o iletrismo e o fracasso escolar e despertar o prazer e o
interesse nos alunos, ou seja, o gosto em aprender e, especialmente, em ler e
escrever.
4.
Objetivos específicos:
São
objetivos específicos desta Sequência Didática (SD):
·
oferecer ao aluno o
acesso ao texto e/ou gênero textual literário “crônica”, assim como a outros
gêneros, como a canção, o filme, o mash up e o romance;
·
levar o aluno a
reconhecer as características do gênero “crônica” e reforçar o conhecimento
sobre os elementos constituintes do agrupamento narrar (tipologia narrativa);
·
propiciar ao aluno o uso
de recursos oferecidos pelas TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação);
·
possibilitar o
desenvolvimento de capacidades de compreensão e capacidades de apreciação e
réplica (ou interpretação e interação), de modo que o aluno venha a participar
de situação de
intercâmbio oral que requeiram: ouvir com atenção, intervir sem sair do assunto
tratado, formular e responder perguntas justificando suas respostas, explicar e
compreender explicações, manifestar e acolher opiniões, fazer colocações
considerando as falas anteriores. (SÃO PAULO, 2008, p. 18)
·
colaborar
para um desenvolvimento cada vez maior da afetividade e da percepção e
sensibilidade artístico-literárias, de modo a contribuir para a formação de um
escritor mais crítico, competente, cidadão e criativo;
·
levar
o aluno a reconhecer o gênero literário como uma linguagem capaz de expressar e
comunicar sensações, sentimentos e pensamentos e a refletir sobre o tema
abordado, os tipos de comportamento/atitudes e sobre a própria vida;
·
levar
o aluno a produzir, em diferentes situações, o gênero estudado.
5.
Conteúdos:
5.1 Conceituais:
·
O
gênero “crônica”, sua estrutura e suas características.
·
Os
elementos da narrativa, enquanto retomada para reforçar o gênero “crônica”.
·
A
canção e sua estrutura.
·
O
filme e o mash up e seus recursos.
Dentro
de cada um desses conteúdos, contemplar-se-á ainda os seguintes aspectos:
·
A
função social dos diferentes gêneros textuais/discursivos e do sistema de
comunicação.
·
O
objetivo do texto/autor e a identificação do interlocutor na análise dos
procedimentos linguísticos empregados.
·
O
tema ou o assunto principal de um texto na análise das informações ou
subentendidas em diferentes gêneros textuais/discursivos.
5.2 Procedimentais:
·
A
antecipação ou a predição de conteúdos o propriedades dos textos – o
levantamento de hipóteses.
·
A
localização e/ou a cópia de informações e a sua comparação.
·
A
produção de inferências locais e globais, sabendo explicar e compreender
explicações.
·
A
percepção das relações de intertextualidade/interdiscursividade.
·
A
formulação de perguntas e respostas, justificando suas escolhas com base nos
conteúdos.
5.3 Atitudinais:
·
A
elaboração de apreciações estéticas e/ou afetivas e de apreciações relativas a
valores éticos e/políticos.
·
A
postura adequada em situações de intercâmbio/interação, sabendo ouvir com
atenção, intervir sem sair do assunto tratado, manifestar e acolher opiniões, fazer
colocações considerando as falas anteriores e alheias.
·
Uma
maior percepção e sensibilidade artístico-literárias, mostrando-se um escritor
mais crítico, competente, criativo e cidadão.
·
A
capacidade de expressar e comunicar sensações, sentimentos e pensamentos.
·
A
reflexão sobre os temas/conteúdos abordados e os tipos de
comportamento/atitude, relacionando-os com a própria realidade e sua comunidade
e com o meio ambiente em que vive.
6.
Problematização – Discussão
inicial:
Os questionamentos para as discussões orais serão
aqueles de caráter introdutório, semelhantes aos que o material de apoio – o Caderno
do Aluno – costuma apresentar como atividade que antecede a leitura e a análise
de um gênero, servindo também como uma sondagem para o levantamento dos conhecimentos
prévios.
Serão ainda utilizados, na realização da leitura, os
descritores/as capacidades propostos por Roxane Rojo (2004), os quais são
classificados em capacidade de decodificação, capacidades de compreensão
(estratégias) e capacidades de apreciação e réplica do leitor em relação ao
texto (interpretação, interação).[1]
7.
Instrumentalização
(ações docentes e discentes):
7.1 Situação
de aprendizagem 1 (de 2 a 3 aulas):
·
Introdução
ao gênero “crônica” e breve estudo por meio da discussão oral e da sondagem.
·
Retomada
do agrupamento “narrar”: sua estrutura e suas características.
·
Apresentação
da crônica “Meu primeiro beijo”, de Antônio Barreto, com a leitura e análise,
fazendo uso das capacidades propostas por Rojo (2004) e explorando os conteúdos
conceituais.
7.2 Situação
de aprendizagem 2 (3 aulas):
·
Exibição
do filme “Um amor para recordar” (2002).
·
Análise
de intertextualidade: o filme e a crônica “Meu primeiro beijo”.
·
Discussão
oral e contextualização, para que os alunos possam, com base na análise dos
dois gêneros, falar de suas experiências com o tema abordado.
7.3 Situação
de aprendizagem 3 (1 aula):
·
Breve
estudo sobre o gênero canção, explorando os conteúdos conceituais.
7.4 Situação
de aprendizagem 4 (2 aulas):
·
Leitura
e análise do capítulo do romance, explorando as capacidades de leitura
propostas por Rojo (2004).
7.5 Situação de aprendizagem 5 (3 aulas):
·
Orientações
para a produção da crônica e do mash up.
·
Produção
textual do gênero “crônica” sobre a temática estudada, em grupo, fazendo uso do
gênero mash up.
7.6 Situação de aprendizagem 6 (2 aulas):
·
Produção
do mash up pelos grupos de alunos na
sala de informática.
7.7. Situação de aprendizagem 7 (2 aulas):
·
Socialização
dos trabalhos.
8.
Material
didático de apoio:
·
textos verbais, não-verbais e multimodais;
·
material multimídia (projetor, telão e notebook);
·
filme;
·
aparelho CD;
9.
Outros
recursos:
·
Sala de aula, de vídeo e de informática.
10. Avaliação:
A avaliação será realizada em todos os estágios do
processo. Inicialmente, para avaliar o que os alunos já trazem de conhecimentos
e, assim, realizar as intervenções e mediações necessárias, bem como para
servir de base sobre o que não sabiam e o que passaram a saber ao final do
processo.
Durante as atividades, será avaliado o comportamento
de observação e de investigação no processo, bem como a participação oral nos
momentos de discussão oral.
Serão avaliados também o posicionamento mantido durante
as problematizações propostas, por meio da expressão oral dos alunos, e a
participação nas diferentes atividades, seja individualmente ou em grupo.
O
resultado final será a produção de uma crônica em grupo, utilizando-se os
recursos audiovisuais e a sua socialização.
REFERÊNCIAS
ASSIS, M. Dom Casmurro: O penteado. São Paulo: Martin Claret, 2002.
BARRETO, A. Meu primeiro beijo.
In: BARREITO, A. Balada do primeiro amor.
São Paulo: FTD: 1977.
CARLOS, R. Aquele beijo. Disponível em: <http://letras.mus.br/roberto-carlos/48556/>.
Último acesso em: 17/05/2013.
O 1º BEIJO DE BENTINHO E CAPITU –
MASH UP. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=wWnHPyTlkhA>.
Último acesso em: 17/05/2013.
ROJO, R. Letramentos e capacidades de leitura para a cidadania. São Paulo:
Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem (LAEL)/Pontifícia Universidade
Católica (PUC-SP), 2004. Disponível em: <http://suzireis.bravehost.com/posgraduacao/artigos/roxane_rojo.pdf>.
Último acesso em: 17/05/2013.
SÃO PAULO (Estado) – Secretaria
da Educação. Orientações Curriculares do
Estado de São Paulo. L. Portuguesa e Matemática – Ciclo I. Coordenação:
Neide Nogueira; Telma Weisz. São Paulo: FDE, 2008.
UM AMOR PARA RECORDAR. Direção: Adam
Shankman. Produção: Hunt Lowry, Denise Di Novi. EUA, Warner Bros. e outras,
2002. 1 vídeo de 01:10:00.
ANEXOS
Anexo
1 – Síntese das capacidades de leitura propostas por ROJO (2004) com
sugestões de como desenvolvê-las (BARBOSA; GARCIA, 2004)
Síntese das capacidades de leitura com
sugestões de como desenvolver [5]
Obs.
Uma
proposta de atividade de leitura não deve intencionar trabalhar com todas as
capacidades ao mesmo tempo, sob o risco da atividade ficar um tanto quanto
enfadonha. Ao contrário, é importante diversificar as capacidades visadas em
várias atividades, levando em conta as propriedades dos textos trabalhados e
as possibilidades dos alunos. Importante também é diversificar o modo de
desenvolver as atividades – trabalho individual, em duplas, coletivo, respostas
escritas ou orais. Um trabalho adequado com a leitura na perspectiva de
desenvolver capacidades/procedimentos, deve acontecer antes (ativação de
conhecimento prévio, antecipação de conteúdos ou propriedades dos textos e
definição de metas e finalidades para a leitura), durante e depois da
leitura.
Anexo 2 – Música “Aquele beijo”, Roberto Carlos
Aquele beijo que te dei
Nunca, nunca mais esquecerei
A noite linda de luar
Lua testemunha tão vulgar
Lembro de você
E fico triste
Até me dá vontade de chorar
De lembrar que o amor
Não mais existe
Não mais existe
Mas eu sempre
Hei de te amar
Ou, ou aquele beijo
Nunca mais esquecerei
O beijo que te dei
Anexo 3 – Capítulo “O penteado”, da obra “Dom Casmurro”, de Machado
de Assis
Capítulo XIXI / O penteado
E Capitu deu-me as costas, voltando-se para o
espelhando. Peguei-lhe dos cabelos, colhi-os todos e entrei a alisá-los com o
pente, desde a testa até as últimas pontas, que lhe desciam à cintura. Em pé
não dava jeito: não esquecestes que ela era um nadinha mais alta que eu, mas
ainda que fosse da mesma altura. Pedi-lhe que se sentasse.
– Senta aqui, é melhor.
Sentou-se. "Vamos ver o grande
cabeleireiro", disse-me rindo. Continuei a alisar os cabelos, com muito
cuidado, e dividi-os em duas porções iguais, para compor as duas tranças. Não
as fiz logo, nem assim depressa, como podem supor os cabeleireiros de ofício,
mas devagar, devagarinho, saboreando pelo tacto aqueles fios grossos, que
eram parte dela. O trabalho era atrapalhado, às vezes por desazo, outras de
propósito para desfazer o feito e refazê-lo. Os dedos roçavam na nuca da
pequena ou nas espáduas vestidas de chita, e a sensação era um deleite. Mas,
enfim, os cabelos iam acabando, por mais que eu os quisesse intermináveis.
Não pedi ao céu que eles fossem tão longos como os da Aurora, porque não
conhecia ainda esta divindade que os velhos poetas me apresentaram depois;
mas, desejei penteá-los por todos os séculos dos séculos, tecer duas tranças
que pudessem envolver o infinito por um número inominável de vezes. Se isto
vos parecer enfático, desgraçado leitor, é que nunca penteastes uma pequena,
nunca pusestes as mãos adolescentes na jovem cabeça de uma ninfa... Uma
ninfa! Todo eu estou mitológico. Ainda há pouco, falando dos seus olhos de
ressaca, cheguei a escrever Tétis; risquei Tétis, risquemos ninfa, digamos
somente uma criatura amada, palavra que envolve todas as potências cristãs e
pagãs. Enfim acabei as duas tranças. Onde estava a fita para atar-lhes as
pontas Em cima da mesa, um triste pedaço de fita enxovalhada. Juntei as
pontas das tranças, uni-as por um laço, retoquei a obra, alargando aqui,
achatando ali, até que exclamei:
– Pronto!
– Estará bom?
– Veja no espelho.
Em vez de ir ao espelho, que pensais que fez
Capitu? Não vos esqueçais que estava sentada, de costas para mim. Capitu
derreou a cabeça, a tal ponto que me foi preciso acudir com as mãos e
ampará-la; o espaldar da cadeira era baixo. Inclinei-me depois sobre ela
rosto a rosto, mas trocados, os olhos de uma na linha da boca do outro.
Pedi-lhe que levantasse a cabeça, podia ficar tonta, machucar o pescoço.
Cheguei a dizer-lhe que estava feia; mas nem esta razão a moveu.
– Levanta, Capitu!
Não quis, não levantou a cabeça, e ficamos assim a
olhar um para o outro, até que ela abrochou os lábios, eu desci os meus, e...
Grande foi a sensação do beijo; Capitu ergueu-se,
rápida, eu recuei até à parede com uma espécie de vertigem, sem fala, os
olhos escuros. Quando eles me clarearam vi que Capitu tinha os seus no chão.
Não me atrevi a dizer nada; ainda que quisesse, faltava-me língua. Preso.
atordoado, não achava gesto nem ímpeto que me descolasse da parede e me
atirasse a ela com mil palavras cálidas e mimosas... Não mofes dos meus
quinze anos, leitor precoce. Com dezessete, Des Grieux (e mais era Des
Grieux) não pensava ainda na diferença dos sexos.
Anexo 4 – Crônica “Meu primeiro
beijo”, de Antônio Barreto
Meu primeiro beijo
Antonio Barreto
É dificil acreditar, mas meu primeiro beijo foi num
ônibus, na volta da escola. E sabem com quem? Com o Cultura Inútil! Pode? Até
que foi legal. Nem eu nem ele sabíamos exatamente o que era "o
beijo". Só de filme. Estávamos virgens nesse assunto, e morrendo de
medo. Mas aprendemos. E foi assim...
Não sei se numa
aula de Biologia ou de Química, o Culta tinha me mandado um dos seus milhares
de bilhetinhos:
"Você é
a glicose do meu metabolismo.
Te amo muito!
Paracelso"
E assinou com uma letrinha miúda: Paracelso.
Paracelso era outro apelido dele. Assinou com letrinha tão minúscula que
quase tive dó, tive pena, instinto maternal, coisas de mulher... E também não
sei por que: resolvi dar uma chance pra ele, mesmo sem saber que tipo de
lance ia rolar.
No dia seguinte, depois do inglês, pediu pra me
acompanhar até em casa. No ônibus, veio com o seguinte papo:
– Um beijo pode deixar a gente
exausto, sabia? – Fiz cara de desentendida.
Mas ele continuou:
– Dependendo do beijo, a gente põe
em ação 29 músculos, consome cerca de 12 calorias e acelera o coração de 70
para 150 batidas por minuto. – Aí ele tomou coragem e pegou na
minha mão. Mas continuou salivando seus perdigotos:
– A gente também gasta, na saliva,
nada menos que 9 mg de água; 0,7 mg de albumina; 0,18 g de substâncias
orgânica; 0,711 mg de matérias graxas; 0,45 mg de sais e pelo menos 250
bactérias...
Aí o bactéria falante aproximou o rosto do meu e,
tremendo, tirou seus óculos, tirou os meus, e ficamos nos olhando, de
pertinho. O bastante para que eu descobrisse que, sem os óculos, seus olhos
eram bonitos e expressivos, azuis e brilhantes. E achei gostoso aquele
calorzinho que envolvia o corpo da gente. Ele beijou a pontinha do meu nariz,
fechei os olhos e senti sua respiração ofegante. Seus lábios tocaram os meus.
Primeiro de leve, depois com mais força, e então nos abraçamos de bocas
coladas, por alguns segundos.
E de repente o ônibus já havia chegado no ponto
final e já tínhamos transposto, juntos, o abismo do primeiro beijo.
Desci, cheguei em casa, nos beijamos de novo no
portão do prédio, e aí ficamos apaixonados por vária semanas. Até que o mundo
rolou, as luas vieram e voltaram, o tempo se esqueceu do tempo, as contas de
telefone aumentaram, depois diminuíram... e foi ficando nisso. Normal. Que
nem meu primeiro beijo. Mas foi inesquecível!
|
[1] Para melhor entender as habilidades das capacidades de
compreensão (estratégias) e das capacidades de apreciação e réplica do leitor
em relação ao texto (interpretação, interação), ver ANEXO 1.
[2] Ver Anexo 2.
[3] Endereço eletrônico que dá
acesso ao vídeo “O 1º beijo de Bentinho e Capitu” – Texto retirado do romance
“Dom Casmurro”, de Machado de Assis, e cena retirada da minissérie “Capitu”,
transmitida pela Rede Globo de Televisão: <http://www.youtube.com/watch?v=wWnHPyTlkhA>.
[4] Ver Anexo 3.
[5] Quadro construído por Jacqueline Barbosa e Ana Luíza Marcondes Garcia a
partir do texto de Rojo 2004 como parte do material de formação do Programa
Ensino Médio Em Rede – CENP/SEE-SP/MEC/PNUD.